sexta-feira, 10 de outubro de 2014

SUSTENTABILIDADE AMOROSA



Num boteco à beira da estrada, entre um gole e outro de vinho de boa procedência (afinal era amiga da dona), ouviu a palavra “sustentabilidade” e voltou discretamente sua atenção ao assunto que rolava numa mesa próxima. Seria impossível não ouvir a conversa que envolvia aquela roda de amigos pois que a altura das vozes acompanhava a quantidade de garrafas de cervejas vazias sobre a mesa.
Percebeu que a palavra não era usada no sentido habitual.
Simplesmente era a resposta de um macho que se pretendia “alfa” a uma quarentona que participava da roda e se declarava sem compromissos.
- Você conhece a lei da sustentabilidade, fulana?
Sustentabilidade, na sua concepção, uma metáfora para: “está sozinha por que quer, se sustentar...”
Desligou-se daquele presente e deu um pulinho no ontem, reconectou-se ao Facebook.
Lembrou-se do ataque súbito, in box de um predador” de plantão. Tipos com palavras gentis, princesas e falsas gentilezas.
Não era suscetível a banalidades, não tinha sonhos de cinderela. O senso crítico falava mais alto.  Gostava de riscos calculados, das surpresas após a curva da estrada. Não era linear, gostava de namorar e alguma gentileza.  Sempre soube se resguardar deste tipo de abordagem e não hesitou em desvencilhar-se da inconveniência.
Espantou-se com a exposição das disponibilidades em busca de possibilidades nas redes sociais e a vulnerabilidade das mulheres ao ataque de um predador.
Acreditava que um relacionamento eventual ou duradouro sustentar-se-ia por si mesmo, certamente dispensaria “sustentabilidades” numa abordagem vulgar.
©rosangelaSgoldoni
10 10 2014
RL T 4 994 818
revisado em 24 06 2018

Publicado na Antologia a Arte de Ser Mulher em prosa, lançada em junho de 2019, Editora Rede Midia sem Fronteiras.




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